Breve História do Discipulado na SRF/YSS
Uma vez que o propósito da Liga Voluntária de Discípulos Leigos é oferecer um meio para o desenvolvimento de discípulos cujo desejo seja seguir de modo tão pleno quanto possível seu guru, Paramahansa Yogananda, pode ser útil aqui uma breve revisão do que significa ser um discípulo na Self-Realization Fellowship/Yogoda Satsanga Society of India.
Tal como os membros da SRF/YSS bem o sabem, a dispensação espiritual mundial confiada a Paramahansa Yogananda foi implementada conjuntamente por Jesus Cristo e Mahavatar Babaji. [1] A orientação divina desses dois grandes avatares se reflete no caminho sagrado do discipulado que Paramahansa Yogananda ofereceu a seus próprios seguidores profundamente dedicados.
Discípulos de Jesus
Nos Evangelhos do Novo Testamento, encontramos muitos insights significativos sobre o discipulado, manifestando-se na vida dos seguidores de Jesus. Paramahansaji nos diz: “Os grandes mestres vêm com dois objetivos: inspirar e iluminar certo número de pessoas ou uma grande multidão e treinar discípulos verdadeiros, que modelam suas vidas segundo a do mestre. Estes últimos são os membros da verdadeira ‘família’ do santo, formando um grupo íntimo no qual ele planta sua vida espiritual. Jesus teve doze desses discípulos – e outros também –, mas um dos doze traiu seu amor e confiança. A tarefa mais difícil de todo mestre espiritual designado por Deus consiste em formar outros iguais a ele mesmo, mas Jesus produziu discípulos genuinamente crísticos.”
Um discípulo é alguém que aceita a disciplina de um guru para alcançar a perfeição espiritual, e que segue os passos do guru, esforçando-se diariamente para se tornar um exemplo vivo de seus ensinamentos e ideais. Isso requer um espírito de entusiasmo e dedicação, qualidades necessárias para todos os discípulos, quer sigam o caminho do monasticismo ou de um chefe de família. Deus não tem favoritos. Ele escolhe aqueles que escolhem a Ele.
O critério para o discipulado é seguir e ser leal aos ensinamentos do guru. Dentre as multidões que ouviram os ensinamentos de Jesus, apenas um grupo relativamente pequeno de fato o seguiu. Foi essa falha das multidões em segui-lo e em receber os benefícios de seus ensinamentos que impeliu Jesus a perguntar: “Por que me chamais: ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que eu vos digo?” (Lucas 6:46). De acordo com Paramahansaji, Jesus expressou um sentimento semelhante em nossa era moderna. Embora a verdade interior – o espirito vivo – de sua mensagem de comunhão divina tenha sido preservada durante 2000 anos por devotos abnegados nos monastérios e conventos – disse nosso Guru -, produzindo muitos santos de autêntica Autorrealização crística (Santo Antônio, São Francisco de Assis, Santa Tereza de Ávila e outros), Jesus não estava satisfeito com a estrutura externa de um “igrejismo” que havia se desenvolvido em torno de seu nome e de seus ensinamentos. Paramahansaji escreveu: “O Jesus ressuscitado e sempre vivo conferenciou com Mahavatar Babaji na Índia, lamentando: ‘Que aconteceu com minhas igrejas? Elas estão realizando boas obras, mas perderam o conhecimento da verdadeira comunhão – o autêntico contato com Deus – e não sabem como perceber minha consciência e transmiti-la aos outros.’”
Paramahansaji prosseguiu, explicando: “Por meio da ciência de Kriya Yoga enviada por Mahavatar Babaji em comunhão com Jesus Cristo, a Self-Realization Fellowship está ensinando, na era moderna, a mesma verdade universal subjacente ao Cristianismo original de Cristo e à Yoga original de Krishna.”
As Instruções de Babaji sobre o Discipulado
O início do movimento de Kriya Yoga nos tempos modernos incluiu outro importante marco em nossa compreensão do relacionamento guru-discípulo, como é praticado na SRF/YSS. No capítulo 34 de Autobiografia de um Iogue, Paramahansaji registrou as palavras de Babaji e Lahiri Mahasaya sobre esse tema.
Lahiri Mahasaya relatou: “Babaji instruiu-me nas regras antigas e rígidas que governam a transmissão da arte da yoga de guru a discípulo. ‘Conceda a chave da Kriya somente a chelasqualificados’, disse Babaji. ‘Quem promete sacrificar tudo na busca da Divindade está apto a desvendar os mistérios finais da vida por meio da ciência da meditação.’
“’Angélico Guru, o senhor, que já prestou um benefício à humanidade com a ressurreição da perdida arte da Kriya, não o aumentará se abrandar as severas exigências para a aceitação de discípulos?’ Olhei suplicante para Babaji. ‘Peço que me permita conferir a Kriya a todos os buscadores sinceros, mesmo que a princípio não sejam capazes de devotar-se à completa renúncia interna. Os homens e mulheres do mundo, torturados, perseguidos pelo tríplice sofrimento, [2] necessitam de incentivo especial. Talvez nunca tentem caminhar para a liberdade se a iniciação em Kriya lhes for vedada.’
“’Assim seja. A vontade divina se expressou por seu intermédio. Dê Kriya a todos aqueles que humildemente pedirem sua ajuda’, respondeu o misericordioso guru.”
Em uma palestra aos discípulos na Sede Central da SRF em 1949, Paramahansa Yogananda assim explicou esse incidente: “Durante eras, a Kriya Yoga havia permanecido oculta do público em geral, para assegurar que a antiga ciência sagrada fosse conhecida apenas por ‘chelas qualificados’ – monges e outros renunciantes, principalmente Brahmins, cuja vida inteira era dedicada somente à realização divina.
Embora as antigas restrições de ascetismo e renúncia tenham sido abandonadas por Babaji a fim de que as multidões pudessem beneficiar-se da Kriya Yoga, ele ainda assim requisitou a Lahiri Mahasaya e a toda descendência de sua linhagem espiritual (a linhagem de Gurus da SRF/YSS) que exigissem daqueles que solicitassem iniciação um período de treinamento espiritual preliminar, como preparação para a prática de Kriya Yoga.”
Como é bem conhecido, foi em 1920 que Mahavatar Babaji visitou Paramahansa Yogananda e o abençoou para que viajasse à América – e de lá difundisse mundialmente os ensinamentos da Kriya Yoga, dizendo: “Kriya Yoga, a técnica científica de realização divina, terminará por difundir-se em todas as terras e ajudará a harmonizar as nações por meio da percepção pessoal e transcendente que o ser humano terá do Pai Infinito.”
História do Discipulado Leigo na SRF/YSS
Paramahansaji se dirige aos membros da SRF durante a Convocação Mundial de 1950
Nos primeiros anos de seu trabalho na América, Paramahansaji aprovava pessoalmente cada indivíduo que recebia a sagrada iniciação em Kriya Yoga, por meio da qual se estabelece o relacionamento guru-discípulo.
Em 1951-52, sabendo que sua encarnação física estava chegando ao fim, ele transmitiu a seus discípulos próximos as regras que deveriam ser seguidas para conceder a iniciação em Kriya Yoga a partir de então. As Lições SRF e as técnicas básicas permaneceriam disponíveis a todos que desejassem recebê-las – membros de qualquer igreja ou caminho espiritual, ou sem afiliação religiosa -, mas a iniciação em Kriya deveria ser concedida apenas àqueles que se tornassem membros da SRF ou YSS, e que aceitassem formalmente o relacionamento guru-discípulo. Tais orientações têm sido observadas desde então pela SRF e YSS, resultando na família espiritual mundial continuamente crescente de discípulos leigos com a qual nos regozijamos hoje.
Formação do Primeiro Grupo de Discípulos Leigos
Em seus últimos anos, Paramahansaji algumas vezes se referia aos que haviam recebido por seu intermédio a iniciação em Kriya Yoga como “discípulos da ordem”. [3] Em outras palavras, ele considerava todos os devotos da SRF/YSS que haviam feito o Juramento de Kriya como membros de uma ordem de discipulado – não apenas os que faziam os votos da ordem monástica. Além disso, o Guru despendeu muito tempo de seus últimos anos trabalhando para estabelecer um plano e estruturação para os discípulos leigos que desejavam cumprir um papel no serviço à obra. Ele apresentou o plano de vida para os discípulos – agora oferecido na Lição 5 de Kriya -, que incluía várias maneiras pelas quais o discípulo poderia servir ativamente o trabalho e a missão do Guru. Ele pediu a Meera Mata que iniciasse a organização dos membros do Templo de Hollywood num primeiro Grupo de Discípulos Leigos da SRF. Meera Mata trabalhou com os principais discípulos leigos a fim de estabelecer o padrão para um movimento que abrangesse a totalidade dos discípulos leigos da SRF. Eugene e Marjone Benvau foram os primeiros líderes leigos do grupo; e outros membros dedicados vêm continuando em papéis de liderança ao longo dos anos até o dia de hoje.
Meera Mata
Na década de 1970, Irmão Bhaktananda passou a cooperar com Meera Mata na orientação desse grupo, conduzindo encontros mensais de Discípulos Leigos e aulas de discipulado no India Hall. O programa prossegue, sob a direção dos monges que sucederam ao Irmão Bhaktananda como ministro responsável pelo Templo de Hollywood.
Em uma carta enviada aos devotos em 1962, Meera Mata escreveu:
“O Grupo de Discípulos Leigos do Templo de Hollywood da SRF é o início de uma Ordem que foi um sonho muito querido de nosso Mestre, Paramahansa Yogananda. Este grupo é formado por membros da SRF que desejam se tornar mais ativos no trabalho da SRF e promover o crescimento desta obra de todo modo que lhes seja possível.”
Em 2019, o lançamento da nova edição das Lições SRF ofereceu a todos os seguidores de Paramahansaji um abrangente plano de vida para o verdadeiro discipulado. O presidente da SRF, Irmão Chidananda, anunciou então a inauguração formal da Liga Voluntária de Discípulos Leigos, que vem sendo implementada e será aberta aos membros da SRF na primavera deste ano.
Nossa Convocação anual – sem dúvida, o maior e mais complexo evento realizado pela SRF a cada ano – é alegremente planejada e organizada por centenas de devotos voluntários. Esta foto mostra voluntários servindo o almoço aos devotos em peregrinação à Sede Central da SRF durante uma Convocação há alguns anos.
Esperamos compartilhar num futuro próximo mais notícias sobre o iminente lançamento da Liga Voluntária de Discípulos Leigos (a Liga Sevak da YSS).
Notas finais:
[1] Veja a explicação em Autobiografia de um Iogue, capítulos 33-37, bem como na revista Self-Realization, edição da Primavera 2020.
[2] O sofrimento físico, mental e espiritual, manifestado respectivamente na doença, nos desequilíbrios psicológicos ou “complexos” e na ignorância espiritual.
[3] “Nunca afirmo que os outros são meus discípulos”, ele disse. “Deus é o Guru. Eles são discípulos Dele.”